Antes de falarmos sobre o impacto fêmoro-acetabular, é fundamental conhecermos algumas nomenclaturas da anatomia do quadril para entendermos melhor o que ocorre neste tipo de afecção do quadril (figura):
· Fêmur proximal: formado pela cabeça e colo do fêmur. É a transição da cabeça e do colo do fêmur que irá conflitar com a pelve, levando o impacto fêmoro-acetabular.
· Acetábulo: porção da pelve responsável por abrigar a cabeça femoral. É no acetábulo que a transição cabeça-colo irá colidir no impacto.
· Labrum: fibrocartilagem, semelhante ao “menisco no joelho” que aumenta a área de cobertura da cabeça e promove uma vedação da articulação do quadril, gerando maior estabilidade articular. Esta estrutura será lesionada no impacto fêmoro-acetabular.
· Cartilagem: superfície lisa que recobre a cabeça femoral e a parte interna do acetábulo, permitindo um deslizamento suave entre estas estruturas, possibilitando o movimento articular do quadril. Assim como o labrum, a cartilagem é uma das estruturas mais comprometidas no impacto fêmoro-acetabular.
DEFINIÇÃO
O Impacto fêmoro-acetabular (IFA) é o atrito que ocorre na articulação do quadril, entre a fêmur proximal e a bacia, quando exercido o movimento de flexão do quadril. Este atrito será provocado por alterações na anatomia da transição da cabeça com o colo femoral, denominado de lesão do tipo CAME ou por alteração anatômica do acetábulo, denominado de lesão do tipo PINCER. Existe ainda um terceiro tipo de lesão que denominamos de lesão combinada ou mista, ou seja,quando estão presentes tanto o CAME como o PINCER, sendo este, o tipo mais frequente. O impacto entre estas estruturas irá provocar lesões progressivas e irreversíveis da cartilagem e do labrum, levando a uma degeneração articular do quadril (osteoartrose).
TIPOS DE IMPACTO
CAUSAS
Apesar de existirem diversas causas para o impacto fêmoro-acetabular, a grande maioria ainda é incerta. Alterações encontradas por algumas doenças na infância, como doença de Perthes, displasia do quadril e epifisiolistese da cabeça femoral podem ser causadores dos dois tipos de impacto. Protusão Acetabular por causas metabólicas ou inflamatórias e retroversão acetabular levam a lesão do tipo pincer. Para a maioria das lesões do tipo com, a etiologia da mal formação do fêmur proximal não é clara; estresse na físe de crescimento na infância, traumas, sobrecargas no esporte e cirurgias mal sucedidas são uma das possíveis causa.
OS SINTOMAS
O impacto fêmoro-acetabular afeta principalmente adultos na segunda e terceira décadas da vida, ativos, que tipicamente apresentam dor no quadril e região inguinal, com ou sem história de trauma
prévio. Estão muito relacionados a atividades físicas, principalmente aquelas em que a amplitude de movimento do quadril é exigida ao máximo.
É característico o sinal em “C”: o paciente demonstra a localização da dor em torno do quadril. A dor é exacerbada com atividade física e quando os pacientes permanecem sentados por longos períodos. Eles apresentam algum grau de restrição da mobilidade do quadril, principalmente em flexão, rotação interna e adução.
O teste de impacto é realizado com o paciente em posição supina, por meio da rotação medial com flexão passiva do quadril até 90 graus e adução, para a avaliação do impacto anterior e pela extensão com rotação lateral, para a avaliação do impacto posterior.
OS EXAMES DE IMAGEM
Os exames complementares de imagens são fundamentais para avaliação e confirmação diagnóstica do impacto fêmoro-acetabular. São necessários radiografias simples , tomografia 3D e ressonância nuclear magnética. Nas radiografias e na tomografia 3D serão avaliadas as anormalidades ósseas causadoras do impacto, sendo fundamentais para o planejamento pré operatório. Já a ressonância auxilia no diagnóstico de lesões do labrum, cartilagem, músculos e tendões.
TRATAMENTOS NÃO-CIRÚRGICOS
Como em qualquer outro tratamento ortopédico, o tratamento menos invasivo é sempre mandatório para entendermos melhor a dor do paciente. No caso do impacto, o tratamento conservador na grande maioria das vezes falha, pois existe uma causa mecânica que provoca a sintomatologia e portanto deve ser removida.
Como métodos de tratamento conservador, deve-se mudar o estilo de vida do paciente, sempre que possível, ou seja, retirar atividades que possam provocar o impacto da região do quadril, como por exemplo, exercícios de agachamento ou leg press, que exigem a flexão do quadril maior do que 90 graus. Isto porém nem sempre é possível, principalmente quando estamos diante de pacientes jovens e atletas.
O uso de anti-inflamatórios e analgésico pode auxiliar na diminuição da dor e diminuição do processo inflamatório. Uma outra opção para alívio da dor são as infiltrações intra-articulares de anestésico e corticóides, que podem ser de grande valia, já que podem diferenciar dores intra de extra-articulares.
A fisioterapia tem o seu espaço com o objetivo de diminuir o quadro algico e realizar programas de alongamento e fortalecimento muscular. Sabe-se que uma musculatura forte pode propiciar menor carga na articulação, consequentemente diminuindo os sintomas.
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Existem duas vertentes para o tratamento do impacto fêmoro-acetabular, cada uma delas com as suas vantagens e desvantagens. São elas:
TRATAMENTO CIRÚRGICO ABERTO
Este tipo de tratamento é o pioneiro no tratamento do impacto fêmoro acetabular. A sua grande vantagem é a visualização direta do local de impacto, possibilitando uma ressecção mais exacta das proeminências ósseas. Porém, são necessárias incisões grandes para o acesso, muitas vezes é necessário o deslocamento da articulação do quadril para o acesso intra-articular, o que pode por em risco a cabeça femoral de sofre necrose. Além disso o pós operatório é mais dolorido e o tempo de recuperação mais demorado.
TRATAMENTO CIRÚRGICO ARTROSCÓPICO
A artroscopia é um grande advento da medicina, que possibilita o acesso as articulações através de pequenos portais de aproximadamente 1cm. São necessários, na grande maioria, 3 portais de acesso, por onde são introduzidas óptica para visualização e outros instrumentais que permitem tanto a ressecção das proeminências ósseas, como também, regularização de defeitos na cartilagem e reinserção labrais. Na atualidade, a técnica artroscópica tem sido a de escolha, apesar de demandar uma curva de aprendizado grande para os cirurgiões.
RESULTADOS
A cirurgia pode conseguir reduzir os sintomas causados pelo impacto fêmoro-acetabular. Corrigindo o impacto, pode evitar danos futuros à articulação do quadril. No entanto, nem todos os danos podem ser completamente corrigidos através de cirurgia, especialmente se o tratamento foi muito adiado e o dano for grave. É possível que mais problemas possam desenvolver-se no futuro. Existe uma pequena chance de que a cirurgia possa não ajudar, porém, atualmente é a melhor maneira de tratar o IFA doloroso.