Por Luana Fleury

Quando você pensa em corrida, quais palavras lhe vêm à cabeça? Disciplina, treino, desafio e superação provavelmente estarão entre elas. E é daí que surge uma distorção que tenho visto entre muita gente que pratica e admira o esporte: a necessidade de transpor seus benefícios para metas de carreira e sucesso profissional.

Quem se interessa por corrida provavelmente leu, no ano passado, um artigo publicado na Folha de S. Paulo que defendia que correr é o novo MBA. Falava até que executivos já estavam colocando a marca Iron Man em seus cartões de visita, como um símbolo de diferenciação.

Como maratonista, acho essa comparação uma grande injustiça. A competição no esporte não é igual à que se vê no mundo do trabalho. Salvo exceções em modalidades como o futebol e o tênis, a vitória no esporte não é garantia de sucesso financeiro e muitos atletas não se podem valer dessa motivação para buscar seus resultados. Tudo bem, você deve estar pensando que o artigo não se referia aos atletas profissionais, mas a executivos que se valem da disciplina e do esforço exigidos pela corrida ou pelo triathlon para terem mais foco em suas carreiras. Mas argumento que seja um atleta profissional ou um amador, como eu, a primeira motivação para se dedicar ao esporte é a mesma – a paixão – e esta não se mede em planilhas de Excel.

Gosto de ver o esporte muito mais próximo da arte do que do mundo corporativo. O esporte inspira, emociona, provoca sentimentos e sensações. Dá frio na barriga, dispara o coração, nos leva às lágrimas de dor e de alegria. É capaz de fazer com que multidões torçam, vibrem, por pessoas anônimas que não estão em busca do pódio. O prêmio é uma medalha sem valor material, mas que simboliza a superação de cada um e, por isso, vale mais do que muita coisa cara que vemos por aí. Na corrida não existem CEOs, empresários, médicos, professores, faxineiros, zeladores… Existem pessoas que competem entre si, que competem consigo mesmas, que buscam um único objetivo: a linha de chegada. O esporte, assim como a arte, é a demonstração do que de mais incrível a humanidade é capaz de realizar. Não vamos tentar transformar isso em fórmula de sucesso, vamos fazer disso uma celebração da vida.

*Luana Fleury é jornalista, executiva em uma grande empresa, e acaba de completar o circuit das Six Marathon Majors em Tóquio (Japão), onde foi a maratonista brasileira mais bem colocada.